AVENIDA FARRAPOS, 2453, B. SÃO GERALDO, PORTO ALEGRE, RS
TELEFONE: (51) 3013-6440 ou 9544-6585

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Precisamos de "algo mais"



Eis um barco no meio de uma forte tempestade. 

Os tripulantes estão apavorados. O medo comanda a situação. “Vamos morrer!”, gritam eles.

Então, se dão conta que o capitão está dormindo, confortavelmente, em um travesseiro na proa do barco. Interpelam: “Desperta, homem! Não te importa que morramos?”.

Calmamente, com a serenidade dos que confiam em "algo mais", o capitão se levanta e ordena o fim da tempestade.

Com um pequeno sorriso nos lábios e um grande amor no coração, ensina: “Vocês não tem fé?”.

Uma frase brota, espontaneamente, da boca dos tripulantes: “Quem é esse que domina as tempestades?”

............

Uma história fantástica. Revela a realidade humana: Medo! Convida à realidade de Deus: Temor do Senhor!

Qual a diferença?

Nesse contexto, medo são emoções de surpresa, impotência e desesperança.

Temos medo quando somos pegos de surpresa, desprevenidos e não sabemos o que fazer. Temos medo quando nossas ideias e conceitos não servem mais para explicar o que está diante de nós e ficamos sem saber o que vai acontecer. Temos medo quando a realidade se mostra que é maior do que pensávamos.

A característica básica desse estado pode ser definida como... PAVOR.

Então, oramos apavorados: “Jesus, não te importas que morramos?”.

Por que o pavor? Jesus está no barco!

Ele é o Deus Emanuel, o Deus conosco. Sua promessa é de que ele estará conosco até o fim dos tempos (Mateus 28.20). E aprendemos que nada nos separará do seu amor (cf. Romanos 8.31-39).

A história segue e nos convida a modificar a pergunta: ao invés de “Não te importas?”, devemos perguntar “Quem é esse que domina?”.

Ecos antigos invadem a nossa mente. Lembramos, por exemplo, o Salmo 93 (v.3-4):

“As águas se levantaram, Senhor, as águas levantaram a voz; as águas levantaram seu bramido. Mais poderoso do que o estrondo das águas impetuosas, mais poderoso do que as ondas do mar é o Senhor nas alturas.”

Apenas diante de um quadro de admiração ("quem é esse que domina?") e confiança ("mais poderoso do que as ondas do mar é o Senhor") o pavor cessa.

Surge o TEMOR DO SENHOR.

O temor do Senhor até inclui as emoções do medo, mas constata que existe “algo mais”.

Esse “algo mais” é a presença de Deus. 

Adquirimos a confiança exemplificada por Jesus no barco. Desfrutamos de sua serenidade pacificadora.

Como isso é possível?

Pela fé.

Pela fé confiante de que Deus está conosco incondicionalmente.

Ele é o criador de todas as coisas. Ele se revelou em Jesus e, através Dele, tem um plano para colocar tudo em seu devido lugar.

Até mesmo as tempestades.

Através do Messias (Cristo) Jesus, deu-se o início uma nova ordem, um novo mundo, uma nova criação.

Por isso, Jesus ensina: Vocês não tem fé? Vocês não acreditam nessa nova realidade? Vocês não estão dispostos a viver a partir desse novo mundo?

Assim, sem o ingrediente da fé, a instabilidade leva ao medo.

Mas, através da fé, surge o temor do Senhor.

Ainda não sabemos o que está acontecendo, ainda não temos o controle da situação, ainda estamos mergulhados num profundo mistério.

Mas sabemos que existe “algo mais”.

Jesus está no barco. Ele domina a tempestade.

Jesus, então, lança o desafio: vocês não querem ter essa fé?

Venham, desçam do barco e me sigam. Coloquem em prática o que aprenderam durante a tempestade.

(Evangelho de Marcos 4.35-41)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Aprendendo a lidar com o mal


Em Marcos 1.15, Jesus anuncia seu evangelho (boa notícia):

“O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!”

Todo o ministério de Jesus foi marcado pelo anúncio de que, Nele, o reino de Deus se estabeleceria. Isso aconteceu de maneira bem diferente da expectativa da época. 

Deus não viria como um grande líder político-militar e venceria os povos opressores (no caso, os romanos) pela imposição de poder.

O anúncio de Jesus era de outro tom. Sua ênfase era na subversão: transformação de dentro para fora, através do amor. 

Nem por isso, deixava de ser revolucionário e perigoso aos olhos de muitos, pois incitava a abandonar a fidelidade à tradição religiosa (e a César!) e seguir um jovem nazareno. Ele seria o novo rei do mundo e estabeleceria o reino do único e verdadeiro Deus na terra.

O que significa, então, arrependimento?

O arrependimento proposto por Jesus significa seguir na contramão do que havia sido ensinado até então. 

E Jesus se valia das Escrituras o tempo todo para mostrar que o seu ensino era o real o projeto de Deus para o mundo.

Nessa perspectiva, uma das características do chamado de Jesus para todos nós é vencer o mal com bem e não o mal com o mal (cf. Romanos 12.21), embora tenha se aprendido a fazer isso a vida toda.

Não ensinaram a você que a correção de um filho se faz através da surra? Que não se deve levar desaforo para casa? E que a melhor defesa é o ataque?

Mas Jesus ensina que o reino de Deus é como uma semente de mostarda ou como o fermento em uma massa (Mateus 13). Começa pequeno; depois cresce. E leva tempo.

É uma nova realidade a ser aprendida. E o começo é o arrependimento.

Arrepender-se, então, implica em renunciar às mentiras contatas a você desde criança.

Isso significa que você deve se sujeitar ao caminho proposto por Deus e resistir a pagar o mal com o mal (cf. Tiago 4.7). 

É uma mudança de direção ensinada com muito amor.

Perceba que o arrependimento não é uma emoção. Não é ficar triste pelos próprios pecados.

Arrependimento é uma decisão: decidir que você errou ao acreditar em si mesmo; e decidir que Deus, em Jesus, está dizendo a verdade.

O arrependimento, portanto, é a decisão de seguir a Jesus Cristo e tornar-se um aprendiz no caminho da paz.

Que Deus abençoe a tua jornada nesse discipulado.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Deus, livra-nos do mal!


A sociedade porto-alegrense e gaúcha passam por um período de violência impressionante.

É comum ouvir relatos de pessoas que foram assaltadas, agredidas e assassinadas. O governo do Estado tem trocado dirigentes e buscado soluções para atenuar a situação.

Infelizmente, a solução parece distante. Muitos vivem clima de desesperança.

Esse quadro, com certeza, não é privilégio de Porto Alegre. A crise é mundial. A angústia está generalizada.

Nossa tendência talvez seja formular uma antiga questão: Se Deus é bom, por que existe o mal? 

Mas a Bíblia nos desafia a fazer outro tipo de pergunta:

O que Deus está fazendo em relação ao mal?

O grande fundamento para se trabalhar com o mal não deveria ser filosófico, mas teológico: a fé cristã se baseia na história da revelação de Deus.

A tradição humanista nos faz pensar que vivemos em um mundo sob “seleção natural”, onde não há nada a fazer em relação ao mal. Ele está aí e temos de nos acostumar a viver com ele.

O cristão, por outro lado, trabalha a partir da história da redenção de todas as coisas em Jesus. O Deus criador nunca se ausentou do mundo, mas estabeleceu um plano para livrá-lo definitivamente do mal.

O projeto de Deus é renovar toda a criação, inclusive a humanidade. Sua promessa se cumpre na morte e ressurreição de Jesus. Nesse momento, Deus estabelece a sua vitória sobre o mal.

Mas tem um segundo estágio: a ressurreição de seu povo na terra. 

Nesse momento, Deus será tudo em todos, Jesus reinará soberanamente em amor, a humanidade resgatará a imagem de Deus e o mal não mais existirá. Eis a nova criação.

A igreja, então, é desafiada a celebrar a vitória de Jesus na cruz, enquanto vive de forma a antecipar a nova criação. 

É uma nova maneira de pensar, de sentir e de agir. A igreja é o sinal do novo mundo de Deus na terra. 

Por isso, através de palavras, ações e orações, os cristãos devem anunciar que o reino de Deus chegou em Jesus e que o problema do mal tem solução através da esperança.

Por mais estranho que possa parecer para mentes formadas a partir da perspectiva científica, é uma crença muito bem embasada na história do mundo, bem como na vida de milhares de pessoas. 

Lembre-se: a fé cristã se baseia na revelação, não na experimentação.

Aceite, então, o projeto de Deus da nova criação em Jesus. Faça dele sua vida. É a vida verdadeira. É o único caminho para um mundo onde o mal não mais existirá.

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”.

(João 16.33)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Que mundo você vive?



18 Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou. 19 Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia. (João 15.18-19)



Infelizmente, para desconsolo daqueles que prefiram uma versão mais light de cristianismo, uma das marcas da igreja é a perseguição e o sofrimento. 

O contexto de todo o capítulo 15 é preparar os discípulos para as inevitáveis “podas” (v.2) a que eles serão submetidos. 

Isso significa que não podemos nos surpreender com a reação do mundo: ele odiará os seguidores de Jesus (v.18).

Mas, que "mundo" é esse?

Para a surpresa de muitos, o mundo referido por Jesus não era o mundo pagão, o mundo da cultura grega e romana. 

O mundo, aqui, aponta para onde Jesus havia nascido e vivido, o mundo da Galiléia e Jerusalém, de galileus e judeus. 

Era o mundo dos filhos de Abrãao, pessoas que estudavam e conheciam a Lei de Moisés. Era o mundo que pensava a cerca de si mesmo como o povo de Deus. 

Esse era o mundo que olhava para Jesus e via os que ele fazia; ouvia o que ele dizia e respondia: não, obrigado! 

Esse era o mundo que viu o cego ser curado e permaneceu cego (João 9).

Por isso, através da advertência sobre o ódio de opositores existe a convocação para viver o verdadeiro "mundo", o mundo revelado em e através de Jesus. 

Na mensagem de Jesus, o reino de Deus aponta para amar os inimigos e não para dominá-los; para caminhar a segunda milha e não buscar os seus próprios interesses; para dar a outra face e estabelecer a nova era do perdão e não buscar a vingança impulsiva; para conquistar pela subversão e não pela coerção. 

E mais, Jesus convoca a todas as pessoas a segui-lo, pela fé, como discípulos amados que o amam, a fim de implementar sua vitória conquistada na cruz.

“Vocês não são desse mundo!” (v.19)

Muitas vezes, você pode ler essa frase como uma indicação para os cristãos serem de "outro mundo". 

Mas, atente: a melhor tradução para o grego nessa frase é “vocês não vieram desse mundo”. 

O reino de Jesus, assim, não veio desse mundo: não se origina da ordem do mundo ou como ele pensa e vive.

O mundo estabelecido em e através de Jesus tem seu estilo próprio. Não é determinado pela cultura do momento. 

Embora fale a língua do seu tempo, seus valores, sua história e sua esperança transcendem o tempo.

A orientação para os discípulos, então, não é para eles se manterem afastados do mundo como um grupo privilegiado de salvos. 

Como a oração de Jesus diz, os discípulos não devem ser retirados do mundo, mas serem livres do mal (Jo 17.15). 

Portanto, os discípulos não são do mundo, mas são para o mundo (cf. João 18.36)

Eles são enviados para dentro dele, como Jesus foi, a fim de serem testemunhas do mundo de Deus, no poder do Espírito.

Esse, enfim, é o mundo certo para viver.

Pr. Vinicius

Leitura recomendada: NT Wright, NT for everyone

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Amar como Jesus amou

9 Como o Pai me amou, assim eu amei vocês; permaneçam no meu amor. 10 Se vocês guardarem os meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho guardado os mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço. 11 Tenho dito essas coisas para vocês, a fim de que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. 12 O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros da mesma maneira que eu amei vocês. 13 Ninguém tem maior amor do que aquele que entrega a sua vida pelos seus amigos. (João 15.9-13)


A tradição da igreja conta que quando o evangelista João estava bem velhinho, morando em Éfeso, já cego e sem forças para andar, repetia sem cessar à igreja que lá se reunia: “Filhinhos, amem uns aos outros!”. 

Seus amigos, então, lhe diziam: “Paizinho, nós já sabemos tudo isso, por que você ainda insiste em repetir esse ensinamento”. 

A resposta de João era clara: “Porque foi esse o maior ensinamento de nosso Senhor; façam isso e viverão!”

E o que significa esse “amor”?

A resposta a essa pergunta começa com o surpreendente v. 12: ”Amem-se uns aos outros da mesma maneira que eu amei vocês”. 

Prestem atenção à referência: devemos amar da mesma maneira que Jesus amou. Esse é o grande detalhe. 

A perspectiva de Deus para o amor supera as relações horizontais. O mandamento da Lei diz: “ame ao próximo como a ti mesmo”. 

Jesus, por outro lado, revoluciona todos os conceitos quando extrapola as relações horizontais (eu + outro) e adiciona a relação vertical (nós + Deus). 

A referência do amor, assim, não é limitada aos bons sentimentos por alguém ou a atos de bondade (embora, com certeza, não seja menos do que isso). 

A referência é a vida de Jesus e o seu caminho obediente até a cruz, onde se entrega para trazer a verdadeira vida ao mundo (v.13; cf. João 16.16 e 10.10).

Como é possível fazer isso na prática?

Ampliar o conceito e a prática de amor não é fácil. Mas é possível. O Espírito Santo auxiliará em toda a jornada (João 15.26). 

Comece, então, trabalhando com tua motivação. Procure agir com o intuito de encontrar soluções para os problemas à tua volta e não para obter qualquer tipo de benefício. 

Muitas vezes, apenas amamos se recebemos amor em troca. 

Faça diferente: pela fé, ame como Jesus, a fim de trazer o mundo de Deus para a tua realidade. 

Então, em vez de brigar impulsivamente com o seu filho ou o seu cônjuge, busque através de palavras, ações e orações criar um ambiente de paz para solucionar os problemas. 

Em vez de devolver a ofensa a um colega de trabalho ou a um amigo, entregue-a para Jesus em oração e resolva a situação com maturidade. 

Se você está prestes a infringir uma lei para obter mais lucro em um negócio, busque em Deus uma saída honesta e perceba que o reino de Deus é estabelecido a partir de pequenos gestos (Cf. Mateus 13.31-33). 

Por isso, seguir a Jesus não é seguir uma “religião”. 

É desenvolver um relacionamento pessoal de amor e lealdade com aquele que tem te amado mais do que você pode imaginar. 

E o teste desse amor e lealdade permanece o simples, profundo, perigoso e difícil mandamento: amar um ao outro.


Pr. Vinicius

Leitura recomendada: N.T. Wright, NT for everyone.