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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Homothumadon

"Assim que eles ouviram isso, adoraram todos juntos [homothumadon] a Deus, dizendo: ..." (At 4.24)

Homothumadon é uma daquelas palavras que não se encontra uma tradução adequada na nossa língua. Na passagem acima, bem como em outras onde essa palavra é usada (10 vezes em Atos e 1 vez em Romanos), seu sentido fica enfraquecido. Morfologicamente, homothumadon é composto por homo ("junto", "mesmo") e thymos ("enfurecer-se", "ferver"). Entender, então, essa palavra apenas no sentido de "unanimidade" pode nos fazer perder toda sua amplitude e aplicação na nossa vida como cristão.

Segundo o Pr. Eugene Peterson, homothumadon tem uma força particular: ela provoca o leitor-ouvinte a uma relação intensa e amorosa com as pessoas e destaca o sentimento de fúria ou de intrepidez ligados à vida de paz e humildade. Pode-se dizer, assim, que essa palavra contém a energia da raiva, sem o sentimento de raiva; possui a emoção forte de um ataque a alguém, sem, contudo, expressar maldade ou dolo. E, ainda, se for aplicada num contexto comunitário de igreja, fornece a base das relações interpessoais, isto é, humildade na postura diante do outro e paixão em promover o reinar de Deus na comunidade.

Sem dúvida, pelo exposto, pode-se perceber que homothumadon é um desafio para todos os discípulos de Cristo. Principalmente, porque viver, ao mesmo tempo, a ambigüidade da intrepidez e da humildade não é comum no nosso tempo. Na verdade, tendemos aos extremos: somos dominadores ou passivos; somos invasivos ou tímidos; gritamos ou nos calamos. Talvez essa polarização nos comportamentos seja fruto de um estilo cartesiano e maniqueísta da sociedade ocidental. Há muita dificuldade, então, em se pensar (e viver!) baseado em um sistema complexo ou múltiplo; o paradoxo da vida não faz parte do nosso dia a dia.

Jesus, por outro lado, mostra com sua vida que viver o homothumadon na igreja e no mundo é possível. Com seu agir amoroso ele promoveu uma revolução radical na sociedade onde viveu e que tem impacto até os nossos dias. Ele amou a todas as pessoas incondicionalmente, mas não deixou de expulsar do templo os mercadores que exploravam os pobres; tratou com dignidade mulheres, crianças, leprosos e prostitutas, mas não deixou de exigir que todos carregassem a sua respectiva cruz; andou com publicamos, religiosos e pessoas de alta classe, mas nunca deixou de manifestar-se contra a religiosidade, a ganância e a vida sem generosidade. Sim, é possível experimentar o homothumadon. Pois, se o grande objetivo de nossa vida é ser semelhante a Cristo, não podemos estabelecer metas menores do que ser como Jesus foi. É compromisso de todo discípulo-seguidor, portanto, estabelecer um esforço contracultural, além, é claro, de uma vida dedicada à oração e à piedade, para levar isso a bom termo.

Cabe destacar, finalmente, que houve pessoas que experimentaram esse sentimento-ação chamado homothumadon. Uma delas chama-se Mohandas K. Gandhi. Apesar de não ter se tornado cristão, ele viveu o Sermão da Montanha de Jesus até as últimas consequências e proporcionou a libertação da Índia do jugo inglês através da paz, da vida simples, do amor incondicional e da desobediência civil. Outra pessoa digna de ser lembrada é o indiano da seita sik Sadhu Sundar Singh. Mesmo diante de perseguições, prisões e privações ele foi um destemido arauto do evangelho na Índia e no Tibete, munido apenas de um Novo Testamento.  Pregou, ainda, nos EUA e em diversos países da Europa, mas nunca deixou seu estilo de vida simples e seu propósito de anunciar o evangelho nos arredores do Himalaia.

Da mesma forma que Gandhi e Sadhu Sundar Singh, com certeza, existem muitos anônimos que viveram (e vivem!) aquilo que foi proposto por Jesus. Eles não são, por isso, heróis, mas apenas aqueles que fazem o que devem fazer (como “servos inúteis” – Lc 17.10); são, porém, discípulos fiéis que experimentam e desfrutam o reino de Deus antecipadamente.

Rev. Vinicius.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Oração comunitária


A oração modelo de Jesus Cristo, expresso no título “Pai-Nosso”, não é uma oração solitária, mas feita em comunidade. O contexto bíblico fundamental é a adoração. É por isso que o culto público parece ser o único contexto no qual podemos recuperar a profundidade do Evangelho. Isso significa que aprendemos a orar na comunidade, que aquilo que fazemos a sós é algo que extraímos da adoração da comunidade. Assim, a oração não cessa e tem formas alternativas quando você está sozinho, mas a perspectiva da coletividade vem primeiro. Infelizmente, a experiência dos cristãos inverteu a ordem. Na longa história da espiritualidade cristã, entretanto, a oração comunitária é mais importante e depois a individual.


Baseado em E. Peterson – O Pastor Contemplativo, pg. 17

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

20 de Setembro


A cultura gaúcha, presente particularmente no Rio Grande do Sul, é caracterizada pela aproximação com o gaúcho, um campesino apegado à lida do gado que possui uma expressão cultural própria, tanto na linguagem, na vestimenta e no lazer como na ética, na religiosidade e na relação com a família e sociedade. E mesmo aqueles que não têm contato direto com o campo, vivenciam essa cultura através do chimarrão, da música, do artesanato, dos símbolos gaúchos e dos Centros de Tradição Gaúcha (CTGs), além de muitos comportamentos característicos.

Sendo assim, vamos aproveitar a Semana Farroupilha, a qual se encerra no dia 20 de setembro, para lermos a identidade cultural do gaúcho à luz do Evangelho. É necessário, para isso, estarmos dispostos a dialogar com ela, percebendo que há muitos valores cristãos que estão em harmonia com os valores gaúchos, embora alguns nem tanto... 

Que os seguidores do caminho de Jesus se unam ao brado riograndense (mostremos valor constância, nessa ímpia e injusta guerra; sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra), a fim de promover o reinar de Deus em todas as querências do mundo.


Com diz Teixeirinha: “... Deus é gaúcho, de espora e mango; foi maragato ou foi chimango...”

sábado, 7 de setembro de 2013

Sobre AMAR

Numa entrevista, o neurobiólogo chileno de 84 anos, Humberto Maturana, fala sobre a necessidade de vivermos a partir do amor.

"O ser humano não vive só. A história da humanidade mostra que o amor está sempre associado à sobrevivência. Sobrevive na cooperação. Se a mãe não acolhe o bebê, ele perece. É o acolhimento que permite a existência. Numa de suas parábolas, Jesus fala do camponês lançando sementes ao solo. Algumas caem nas pedras e são comidas pelas aves, outras caem num solo árido e resistem por pouco tempo. Mas há aquelas que encontram boa terra e crescem vigorosas. Assim também nós precisamos de um solo acolhedor para nos desenvolver. Nosso solo acolhedor é o amor."

Nessa perspectiva, o desafio cristão é compreender e viver o amor revelado em Jesus, o qual busca o bem do outro e não a satisfação da necessidade de ser amado. Deus nos convida a fazer o que Ele fez: morrer para salvar quem não merece:

"Pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores." (Rm 5.7-8).

O caminho do amor, portanto, é o serviço compassivo e humilde, onde é melhor dar do que receber (At 20.35); onda a motivação não está na retribuição, nem mesmo do amor. É como Paulo descreve em 1Co 13.4-7:

“O amor é paciente e é bondoso. Não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Não é grosseiro, nem egoísta; não se ira facilmente, não guarda mágoas. O amor não se alegra quando alguém faz algo de errado, mas se alegra quando alguém faz o que é certo. Quem ama nunca desiste. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba...”

Por outro lado, amar de maneira INCONDICIONAL só é possível porque Deus nos amou primeiro (1Jo 4.19). A palavra ouvida pelo Filho de Deus no seu batismo ecoa até nós: "Esse é meu filho amado, que me dá muita alegria!" (Mt 3.17). Jesus, portanto, cumpriu seu propósito sustentado pelo amor do Pai. E, a partir da mesma base, devemos cumprir o nosso.

Que Deus nos dê a coragem para entrar nessa jornada de amor, conscientes de que vale a pena, pois foi planejada carinhosamente por quem criou todas as coisas. Soli Deo Gloria.

Vinicius.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

LUZES DA LUZ

Mt 5.14-16

"Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus."

Deus chama um povo para ser luz para as nações desde o Antigo Testamento (Gn 12.1-3). Mas essa luz não é uma fonte autônoma; ela aponta, sinaliza para algo maior: a verdadeira Luz. É como o sol: não podemos olhar fixamente para ele, mas ao observar seus reflexos, percebemos sua existência e sua ação.

Somos chamados para ser luzes da Luz, através de atos e palavras. Glórias da Glória, a fim de revelar o Pai. Ansiamos, portanto, que Deus revelado em Jesus seja discernido em meio a tantos brilhos espalhados pelo mundo (Jo 1.18), pois temos crido e reconhecido Ele como o único doador da vida plena (Jo 6.68), o qual nos ilumina para experimentar e anunciar o governo de Deus entre todas as nações.

A Deus seja dado todo o louvor!

Vinicius.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Como você gostaria de ser lembrado?

Há dois anos, dia 27 de julho de 2011, morria em Londres aos 90 anos John Stott. Veja como ele gostaria de ser lembrado...

“Como um cristão medíocre que foi resgatado e teve o desejo de entender, expandir, relatar e viver a Palavra de Deus”


Ver em Ultimato

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Henri Nowen: exemplo e admiração

A vida de Henri Nowen é digna de admiração. Além de suas muitas sábias orientações e discernimentos espirituais, merece destaque a sua abnegação. Quando ele foi lecionar em Harvard, a fama e prestígio de Nowen como professor, escritor e conferencista já percorriam o mundo, e em todo lugar por onde passava ele era bastante respeitado. Todavia, tudo isto não bastava para amenizar o profundo vazio espiritual e as feridas pessoais que ele sentia aumentar com o tempo. Tudo isso, combinado com uma vida de fama e agenda lotada de compromissos, levaram Nouwen a um ponto de colapso total num espaço de três anos. Até que ele teve a compreensão, à luz da experiência de Jesus, de que o caminho para subir é descer. Assim, ele abandonou sua brilhante carreira nas melhores universidades dos EUA para compartilhar sua vida com os necessitados, servindo em uma comunidade para deficientes mentais, a Arca - O Amanhecer, em Toronto no Canadá. Conforme o próprio Nouwen disse em seus escritos, “ali ele não foi para dar, mas para receber; não por causa de excesso, mas por falta. Foi para conseguir sobreviver” (YANCEY, P. Alma Sobrevivente, 2004, p. 306).

Sinto algo semelhante quando presto auxílio a grupos de apoio para dependentes químicos. Não é egoísmo, mas convicção de limites e da necessidade de outros para seguir na jornada da vida. Na verdade, nesse momento percebo o quanto sou dependentes da graça de Deus e experimento a verdadeira força que vem da fraqueza.
Vinicius
(Ver em FTL)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

IBGE e a religiosidade no RS

Dados do IBGE colocam municípios do Estado como campeões em credos
Itamar Melo
Os dados sobre religião do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consagram o Rio Grande do Sul como o Estado dos extremos religiosos. Estão em território gaúcho o município mais católico, o mais evangélico, o mais umbandista, o mais islâmico e o mais mórmon do país. O Estado tem a Capital mais judaica. Até entre os sem fé os gaúchos se destacam: a única das 5.564 cidades brasileiras onde quem não tem religião é maioria fica aqui: Chuí.
A principal explicação para a diversidade está na formação histórica do Estado. Imigrantes europeus de forte religiosidade, especialmente italianos, fundaram pelo Interior comunidades que hoje são os municípios brasileiros com maior proporção de católicos. A imigração europeia também explica a liderança gaúcha no ranking dos municípios mais evangélicos. São cidades fundadas por luteranos vindos da Alemanha, que mantêm a tradição do credo de seus ancestrais.

Mas surpreendente é a força das religiões afro-brasileiras. Apesar de ser o segundo Estado mais branco do país, o Rio Grande do Sul tem a maior proporção nacional de adeptos da umbanda e do candomblé — 1,47%, quase cinco vezes o percentual da Bahia. Estão em terra gaúcha as 14 cidades com mais seguidores dessas religiões, a começar por Cidreira. No Estado, 58% dos fiéis afros são brancos. Para o sociólogo da religião Ricardo Mariano, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), a explicação pode estar no sincretismo vivenciado na Bahia, no Rio e em São Paulo:
— Na Bahia, existe um grande sincretismo afro-católico. Lá, a Igreja tem pleno domínio dessa situação. Por isso, parte das pessoas dos cultos afros se identifica como católica. 
O Estado tem três municípios entre os cinco mais islâmicos, liderados por Chuí. A presença de imigrantes do mundo árabe explica esse quadro. Essa imigração também pode dar uma pista do motivo para Chuí ser a cidade onde mais gente se declara sem religião (54,24%). Mariano tem suspeitas para explicar o fenômeno:
— Anos atrás, foram feitas acusações de que haveria terroristas islâmicos na região, o que pode ter deixado as pessoas desconfortáveis. Outra possibilidade é uma influência do Uruguai, um dos países mais leigos do mundo.

No caso dos mórmons, que registram alguns de seus melhores percentuais em cidades gaúchas (chegando a 3,52% em Quaraí), Mariano observa que é preciso investigar para saber a causa do fenômeno, mas acredita que ele possa estar relacionado a algum trabalho missionário específico.

[Menos católicos, mais evangélicos e espíritas]
A Igreja Católica está perdendo espaço de forma acelerada no mercado da fé brasileiro. Conforme o Censo 2010, a proporção de católicos no país caiu para 64,6%, contra os 73,6% de 10 anos antes. Em 1980, os católicos eram 89,2% da população. Já há três Estados onde os seguidores do Vaticano não são maioria: Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima.

No Estado, a sangria de fiéis da Igreja acentuou-se em relação à década anterior. Depois de cair de 81,3% para 76,4% entre 1991 e 2000, a proporção despencou para 68,8% em 2010. Em termos absolutos, há menos católicos do que no passado, no Estado e no país, apesar do crescimento populacional.

As ovelhas desgarradas desse rebanho estão alimentando as hostes de outros credos e também o time dos sem fé. Já se declaram sem religião 8% dos brasileiros e 5,9% dos gaúchos. Mas isso não significa avanço do ateísmo. O IBGE descobriu que eles são muito poucos: 0,32% no Brasil, 0,47% no Estado. Uma religião que teve avanço significativo, em termos percentuais, foi o espiritismo. No Estado, passaram de 1,8% para 3,2% da população. O recuo dos católicos, no entanto, está diretamente ligado ao aumento de 44% na proporção de evangélicos, que passou de 15,4% para 22,2% da população do país em uma década.

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/06/dados-do-ibge-colocam-municipios-do-estado-como-campeoes-em-credos-3806966.html

terça-feira, 25 de junho de 2013

Nosso paradoxo e a necessidade da democracia

O paradoxo (ou a ambiguidade) humano faz da democracia a melhor forma de governo jamais desenvolvida, pois, idealmente, a democracia reconhece tanto a dignidade como a depravação do ser humano.

Por um lado, ela reconhece nossa dignidade humana, pois se recusa a impor as pessoas que nos governarão sem o nosso consentimento. Ela nos deixa participar do processo de tomada de decisão. Ela nos trata com respeito, como adultos responsáveis.
Por outro lado, a democracia reconhece também a nossa depravação humana, quando se recusa a concentrar poder nas mãos de poucos, uma vez que isso não é seguro. Assim, faz parte da essência da democracia dividir o poder e proteger os governantes de si mesmos. Como Reinhold Niebuhr afirma, “a capacidade do homem para praticar a justiça torna a democracia possível; mas a inclinação do homem para a injustiça torna a democracia necessária”.

sábado, 22 de junho de 2013

A simplicidade do evangelho e a sofisticação da Igreja

Texto do Rev. Ricardo Barbosa
O evangelho de Jesus Cristo é simples. Simples na forma e simples no conteúdo. A vida e o ministério de Jesus acontecem num cenário simples. Ele anunciou as boas novas do reino de Deus, demonstrou a presença do reino através de palavras, exemplos e ações. Convidou pessoas para estarem e aprenderem com ele. Sofreu as incompreensões do sistema religioso e político do seu tempo. Morreu e ressuscitou. Após a ressurreição, encontrou-se com seus discípulos e comunicou-lhes que recebera toda autoridade no céu e na terra, e que, como Rei e Senhor, enviou seus discípulos para anunciarem as boas novas, levando homens e mulheres a guardarem tudo o que ele ensinou, integrando-os numa comunidade trinitária por meio do batismo, e prometeu estar com eles todos os dias, até o fim.

Alguns dias depois, no meio da festa de Pentecostes, 120 discípulos estavam reunidos em Jerusalém, e a promessa de Jesus se cumpriu. Todos foram cheios do Espírito Santo, começaram a viver a nova realidade anunciada por Jesus, saíram alegremente, por todo canto, pregando a boa notícia de que Deus visitou seu povo e trouxe salvação, justiça e liberdade.

A história seguiu e os cristãos foram se multiplicando, organizando igrejas, criando instituições, formas e ritos. Porém, as instituições cresceram e suas estruturas se tornaram mais complexas e sofisticadas. Transformaram-se num fim em si mesma. A simplicidade do evangelho foi substituída pela complexidade institucional.

C. S. Lewis, na carta 17 do livro “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, aborda o tema da glutonaria e afirma que uma das grandes realizações do maligno no último século foi retirar da consciência dos homens qualquer preocupação sobre o assunto, e isso aconteceu quando ele transformou a “gula do excesso na gula da delicadeza”. Para C. S. Lewis, o problema da gula, muitas vezes, não está no excesso de comida, mas na sofisticação, na exigência de detalhes em relação ao vinho, ao ponto do filé ou ao cozimento da massa. Fica impossível atender a um paladar tão sofisticado. A simplicidade do ato de comer dá lugar à sofisticação gastronômica. Pessoas assim, segundo o autor inglês, demitem cozinheiras, destratam garçons, abandonam restaurantes, cultivam relacionamentos falsos e terminam a vida numa solidão amarga.

Como igreja, corremos o mesmo risco. A simplicidade e pureza do evangelho já não provocam prazer na maioria dos cristãos ocidentais. A sofisticação da igreja, sim. É o vaso tornando-se mais valioso que o tesouro contido nele. Se a música não estiver no volume perfeito, o ar condicionado no ponto exato, a pregação no tempo apropriado, com conteúdo que agrade a todos os paladares e com o bom uso dos aparatos tecnológicos, talvez eu não me agrade desta igreja.

Justificamos a sofisticação com expressões como “busca por excelência”, “relevância”, “qualidade”. Parece justo. O problema é que a excelência ou a relevância do evangelho está exatamente na sua simplicidade. É cada vez mais fácil encontrar cristãos que acharam a “igreja certa” do que os que simplesmente encontraram o evangelho. A sofisticação da igreja mantém o cristão num estado de espiritualidade falsa e superficial. A maior deficiência do cristianismo não está na forma, mas no conteúdo.

A verdadeira experiência espiritual requer um coração aquecido e não sentidos aguçados. Precisamos elevar nossos afetos por Cristo, seu reino, sua Palavra e seu povo, e não os níveis de sofisticação e exigências institucionais. O vaso deve ser de barro, sempre. O tesouro que ele  guarda, o evangelho simples de Jesus Cristo, é que tem grande valor. A sofisticação produz queixas, impaciência, falta de caridade e egoísmo. A simplicidade sempre nos conduz a compaixão, sinceridade, devoção e auto-doação.

• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O louvarei mesmo na tormenta...



Esse vídeo reflete o ensino de Jesus em João 6:60-70, onde após se defrontarem com a realidade da vida proposta por Jesus, muitos seguidores o abandonaram. Pedro, porém, mostra que podemos segui-lo sob qualquer circunstância.

Então, assim como não podemos seguir Jesus a fim de obter conquistas pessoais, não podemos abandoná-lo devido às dificuldades que acontecem em nosso caminho (cf. Mateus 13.20-21 e Habacuque 3.17-19).

Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?” [...] Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo. Então, Jesus perguntou aos Doze: “Vocês também não querem ir?” Simão Pedro lhe respondeu: Senhor, para quem iremos? Só tu tens as palavras de vida eterna. 
E nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Oração de fé!

“Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.” (Tiago 1.5-8).
Creio que um dos graves problemas do cristão é a sua falta de fé. Não falo daquela fé salvadora, redentora, a qual nos aproxima do Pai. Nem daquela fé determinista, que faz de Deus um instrumento para nossa satisfação pessoal. Estou falando da fé que vive a partir do que acredita. Paulo já dizia: “o justo viverá por fé” (Rm 1.17). Em outras palavras, a vida daquele que se encontrou com Deus está baseada na confiança de que as palavras de Cristo são verdadeiras. Logo, as segue corajosamente, entendendo como única alternativa. Como Pedro, a pessoa de fé diz: “Só tu tens as palavras de vida eterna” (Jo 6.68). A orientação de Tiago, portanto, é para buscarmos a vontade de Deus com a certeza que Deus a revelará. O caminho, segundo Jesus, está muito claro: “Se vocês permanecerem em mim e as minhas palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem e lhes será concedido” (Jo 15.7; 1Jo 5.14). O desafio, então, é viver de modo que a “mente de Cristo” esteja em nós (1 Co 2.16). Daí sim, devemos pedir com fé, sem duvidar, pois a vontade de Deus acontecerá na nossa vida e experimentaremos estabilidade em tudo o que fizermos.

domingo, 2 de junho de 2013

ESPIRITUALIDADE SUSTENTÁVEL

Rm 8.19-22
A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados...
Um dia a própria natureza criada ficará livre do poder destruidor que a mantém escrava e tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus... 


A espiritualidade cristã aponta para a responsabilidade do ser humano em cuidar da criação e governá-la (geri-la) com sabedoria (Gn 2.15). Só a revelação de filhos maduros, os quais sejam verdadeira expressão da imagem de Deus, podem conduzir o mundo criado à liberdade plena (Rm 8.29). É fundamental, portanto, a nossa compreensão acerca do propósito de Deus de endireitar o mundo, o qual formará uma nova criação (Ap 21), pois fomos chamados a participar desse empreendimento: somos coparticipantes da missão de Deus.
O caminho da espiritualidade sustentável é, então, em primeiro lugar, o do ARREPENDIMENTO (mudança de mente e atitude), onde a humanidade reassume o seu papel na história de cuidadora da criação. Além disso, essa mesma espiritualidade deve protagonizar a RECONCILIAÇÃO do ser humano com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a natureza, pois as relações rompidas é que promovem o jugo da autodestruição. Finalmente, essa espiritualidade se preocupa com a MISSÃO de fazer discípulos de Jesus de todas as nações, os quais espelhem o propósito divino de sustentabilidade para o mundo.
Vinicius

terça-feira, 28 de maio de 2013


“Tu te tornas
eternamente responsável
por aquilo que cativas.”

O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)

Deus tem nos cativado e sido responsável por nós. Ele nos chama, então, para cativarmos uns ao outros e nos responsabilizarmos uns pelos outros...

"Louvado seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai bondoso, o Deus de quem todos recebem ajuda!  Ele nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos. E nós damos aos outros a mesma ajuda que recebemos de Deus." (2 Coríntios 1.3-4)

domingo, 26 de maio de 2013

Descanso e satisfação

Salmo 131:
Senhor, já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, aquietei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe e estou satisfeito e tranquilo.

Um caminho apontado pela espiritualidade cristã é a fé como descanso. Muitas vezes, porém, vivemos atrás de conquistas para suprir nosso orgulho. Mas, se confiarmos que apenas Deus pode revelar e suprir nossas verdadeiras necessidades, a consequência será satisfação, como a de um bebê recém amamentado. Que linda figura... Que lindo poema... Pode ser real na nossa vida...
Vinicius.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

NA SOMBRA DA FIGUEIRA (um lugar de encontro...)


No teu aconchego, imponente Figueira
Perscruto a imensidão da vida
Embora escondida
Em sua plenitude
Mas... nessa atitude,
Contemplo belezas, cheiros e sabores,
E resgato matizes de cores
De uma realidade esquecida
Que insiste em ser revivida
E compartilhada... com o Vento.

Sob o teu manto, majestosa Figueira
Me sinto pequeno e frágil
Como realmente pareço...
Mas me apresento, mesmo assim
Para explorar no mundo os seus confins
Suas dores, amores, batalhas e fins
Buscando, talvez, um traçado
Que me leve, descansado,
A um sempre novo e régio começo.

Debaixo do teu regaço, estimada Figueira,
Sinto aconchego, ternura...
Enfim, a coisa pura
Numa utopia persistente
Pois, creio, existe a semente
Que se espalha na terra nua
E confronta a realidade crua
De viver com sentido no presente.

Então, amiga Figueira,
Te quero sempre ao meu lado
Se tornando minha companheira, parceira
Sem preconceito ou barreira
A dialogar com a vida,
E descobrir a lida
No mundo tresloucado
Com a certeza que na tua guarida
Posso me encontrar com a Vida
Que tanto tenho buscado.

Vinicius Silva de Lima

quinta-feira, 16 de maio de 2013

RETORNO...

SALMO 8
(UMA RELEITURA GAÚCHA)

SOBERANO PATRÃO CELESTIAL,
SENHOR DA HUMANIDADE,
VENHO AQUI TE EXALTAR COMO O MONARCA DE TODOS OS PAGOS,
COM TODA MINHA SINCERIDADE.

EM CADA RINCÃO CELESTIAL
EU VEJO TUA ESSÊNCIA ALTANEIRA...
TARDEZITA, A ESTRELA BOIEIRA DESENCILHA A NOITE A MINHA VISTA,
MIRO O LUZEIRO DA AURORA,
MATIZES DE UM POENTE
TRANÇADOS POR MÃO DE ARTISTA

À NOITE, QUANDO O TROPEL DE ESTRELAS ME VOLTEIA,
RECORDO A CAMPERIADA DO DIA
E UM PENSAMENTO ME MANEIA:
- O QUE É O VIVENTE AFINAL,
PARA QUE SOBRE TODA CRIAÇÃO
TENHA DOMÍNIO SEM IGUAL?

O CORAÇÃO DO HOMEM É CABORTEIRO,
E MUITAS VEZES DO MUNDO ELE FAZ UM ENTREVEIRO;
MAS MESMO ASSIM TU INSISTES:
 XIRU, EU SEI QUE TU ÉS CAPAZ, POIS NÃO FOI A TOA
QUE SOBRE TODA A ESTÂNCIA DA TERRA
EU TE PUS POR CAPATAZ !

ÓH DEUS, SOBERANO PATRÃO CELESTIAL, SENHOR DA HUMANIDADE,
VENHO AQUI TE EXALTAR COMO O MONARCA DE TODOS OS PAGOS,
COM TODA A MINHA SINCERIDADE

Vinicius Silva de Lima
Tiago de Mello Cargnin